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Saturday, June 23, 2007

Persistência de um compromisso



Já lá vão perto de cinquenta anos. É muito, é quase meio século. Quantas guerras, quantas injustiças cometidas, à sombra dos direitos dos mais poderosos que nunca coincidem com os dos mais fracos. Tratados de ontem que se esquecem hoje e se violam amanhã.
Apesar disso, um grupo de antigos estudantes de Coimbra continua a respeitar um compromisso implícito tomado quando, no início dos anos sessenta, calcorreávamos as ruas da nossa velha Coimbra a caminho da alta. Um tratado de amizade e de descontracção.
Em cada ano, durante um ou dois serões, renovamos esses compromissos, revigoramos essa amizade, fazemos uns passeios no Portugal profundo e fazemos planos para o ano seguinte.
Este ano, depois de Santarém em 2006, Serra da Estrela em 2005 e Ourém em 2004, coube a vez a Mortágua. Foi pena o fim de semana estar chuvoso, porque as margens da barragem da aguieira mereciam um maior apreço. De qualquer modo, os nossos anfitriões, Professor Victor Lobo e esposa, esforçaram-se e conseguiram um agradável convívio entre cerca de três dezenas de velhos amigos. Disseram-se poemas, fez-se teatro, cantaram-se estrofes, contaram-se anedotas e reviveram-se episódios que tornaram colorida a vida de estudante em Coimbra. Deram-se abraços e fizeram-se promessas de novo encontro para o próximo ano.

Sunday, April 15, 2007

Onde tudo começou



Não chores querida.
Uma terra e uma pessoa são as minhas bases de sustentação. Da pessoa poderei vir a falar mais tarde. Mas de ti, mundo maravilhoso, mundo pequeno, mas que para mim é tudo, terei que falar agora. Foi aqui onde nasci, onde passei a minha infância sem problemas, apesar de uns maravilhosos puxões de orelhas, por cada vez que me descuidava da minha contribuição para as lides da casa: levar lenha para o canto, apanhar erva para os coelhos, ajudar na loja ao atendimento dos clientes. Digo que foram maravilhosos porque criaram entre mim e as queridas mãos que tão sabiamente aplicavam a justiça, uma relação de amor difícil de igualar.
Como poderia, passadas várias dezenas de anos, não trazer aqui a alegria que sinto quando piso os mesmos campos onde procurei ninhos para contarem para o meu rol de comparação com os colegas, embora me tivessem custado um ou outro "amargo de orelhas".
Sinto uma grande felicidade quando debruçado sobre o ribeiro onde chapinhei frequentemente, na busca da localização de ninhos de carracinha, de rouxinol ou de melro que em cada ano representavam as conquistas da minha infância. Como eram bem tecidos com musgo e cheios de penas os das pequenas carracinhas. E os de melro como eram chapeados com barro e bem apoiados nos ramos dos salgueiros.
Quando passeio por debaixo das oliveiras e consigo identificar os ramos onde balouçavam ninhos de pintassilgo ou de sementeiros e as ramificações onde se escondiam os de tentilhões e até buracos nos troncos onde as mejengras e os topa gatos escondiam os seus, sinto-me recuar mais de meio século.
Como tudo era diferente.
Já nem falo da varanda onde me rebolava depois de dormir a sesta, ou na frescura da loja onde me refrescava nas tardes de calor com vento suão, ou ainda no palheiro onde descobria o ninho da gata cujo volume da barriga tinha diminuido, repentinamente.