Tuesday, January 2, 2007

Água

ÁGUA
POÇO DE VIRTUDES E FONTE DE PRAZER

Não é fácil apresentar novidades, quando nos propomos falar de uma substância tão conhecida e tão estudada, como é a água.
Que tal falar das recentes investigações no campo da produção agrícola com água previamente submetida a campos magnéticos ou ainda comentar as extraordinárias experiências de cristalização da água efectuadas pelo japonês Massaro Emoto e a sua interpretação em termos das vibrações de baixa energia dos agregados moleculares ou falar das perspectivas que se abrem à homeopatia com o desenvolvimento das nano tecnologias? Aí esbarramos com uma dificuldade ao querer separar o que é ciência aplicada do que é puro charlatanismo. Face a estas dificuldades, resolvemos falar do que representa para os seres vivos um líquido que não tem alternativa. Pode falar-se em substitutos do petróleo, da madeira, do vidro ou dos metais, mas não em substitutos da água.
O que poderá dizer- se da água se, logo no berço, sabemos manifestarmo-nos ruidosamente quando ela nos falta?
De facto, faz parte da meia dúzia dos primeiros vocábulos que balbuciámos e é, como nenhum outro, termo de referência em muitas expressões populares de que, frequentemente, nos servimos para justificar as nossas atitudes ou para prevermos ou explicarmos os actos de outrém ou da própria Natureza. Eis alguns exemplos que recolhemos:
Água de Agosto, açafrão, mel e mosto
Água de Fevereiro mata o onzeneiro
Água de S. João tira o vinho e não dá pão
Água lava até passar por um cesto roto
Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura
Água o deu, tumba o leva
Águas passadas não movem moinhos
Até isso acontecer, por debaixo da ponte, muita água vai correr
Originar uma tempestade num copo de água
Dar água pela barba
Dar em águas de bacalhau
É um regalo na vida, à beira da água morar, quem tem sede vai beber, quem tem calma vai nadar
Em Abril, águas mil

Ferver em água fria
Gato escaldado, da água fria tem medo

Ir por água abaixo
Levar a água ao seu moinho
Meter água
Não dizer desta água não beberei
Pescar em águas turvas
Receber um balde de água fria
Sem dizer água vai
Sentir-se como peixe na água
Ser claro como a água
Ser marinheiro de água doce
Trazer água no bico
Uma água de Maio e três de Abril valem por mil

Outras expressões populares existirão, uma vez que a busca não pretendia ser exaustiva.
Sabe-se que a água tem uma constituição muito simples. Como todas as coisas simples, não precisa de adornos para ser desejada. A água é inodora, é insípida e é incolor. Por isso, ao lavar, tira os odores e a sujidade desagradáveis dos corpos, aviva as cores da Natureza e mata a sede dos animais e das plantas.
Como poderíamos apreciar os deliciosos odores e paladares de um bom prato, de uma boa bebida, de um bom doce ou de uma saborosa fruta se a água tivesse sabor ou odor? Tudo teria o gosto e o cheiro da água, uma vez que ela é o principal constituinte destas espécies.
Não tem cor para possibilitar a passagem da luz que viabiliza a fotossíntese no seu seio. Não é corada, mas não é por isso que nos priva da beleza de um arco-íris em dias de chuva, quando na forma de gotas, refracta diferenciadamente os raios solares, ou quando nos devolve o rubro de um pôr-do-sol de Inverno à beira mar.


Pôr do Sol na praia (Faro 2005)


Como todos os líquidos, não tem forma própria, mas nem por isso deixa de nos extasiar com a beleza dos contornos que adquire na imponência de uma onda alterosa que tudo arrasta à sua passagem, ou na forma rendada de uma onda rasteira que se espreguiça sensualmente na praia, ao fim da tarde


Praia ao fim da tarde

ou ainda na majestosidade que adquire em algumas quedas de água,
Cataratas de Iguaçú (Brasil 2003)

ou mesmo até no emaranhado dos caracóis em que se enrola e desenrola, ao saborear a liberdade quando acaba de nascer na forma de rio.

Nascente do Rio Nabão (Agroal 2005)


Quem, em dias quentes, não saboreou um banho refrescante num rio, no mar, ou numa piscina?
Quem, em dias frios, não apreciou um banho bem quente ou até uma botija na cama?
São as suas propriedades termodinâmicas que a tornam o produto natural mais perfeito para suavizar grandes oscilações térmicas.
Todos os atributos lhe servem. É líquida, mas também é sólida e é gás. É mineral, mas também é animal e é vegetal. É serena, mas também é onda e é turbilhão.
É estabilidade, mas também é tufão. É seiva e é sangue, mas também é morte e destruição.
Segundo uma teoria aceite, a vida teria tido origem no meio aquático há cerca de três mil e quinhentos milhões de anos, e aqui se desenvolvera, até que as sucessivas evoluções deram origem a alguns seres que optaram pela superfície não ocupada pela água.
Mesmo vivendo fora da água, estes seres não a dispensam. Desde há milhares de anos que, para além da alimentação dos animais e plantas, tem sido usada nas lavagens, nos banhos, ou ainda como suporte dos transportes fluviais e marítimos.
Não fora a sua capacidade de solvente geral e ela não seria utilizada nas lavagens nem serviria como transportador dos alimentos para as plantas.
Não fora a sua alta capacidade de termo-regulador e ela não seria utilizada para refrescar ou aquecer o ar ou os corpos.
Não fora a sua elevada densidade e não seria, como é, uma excelente via de comunicação, suportando à sua superfície grandes barcos que cruzam os oceanos sem necessidade dos vultuosos custos das auto-estradas ou das vias-férreas.
Não fora a sua irregular expansão com a temperatura e a vida aquática nas regiões polares seria impossível, nem seria possível a renovação das camadas de água nos lagos por mudança das estações, tão necessária à alimentação dos animais aquáticos.
Não fora a sua grande capacidade de solubilizar gases e os peixes e outros animais marinhos não encontrariam aí o oxigénio de que dependem.
Não deixa de nos impressionar como é que uma molécula tão simples, formada apenas por três átomos, possui propriedades que a tornam "única".
Embora se forme continuamente, em reacções naturais, e tenha sido muito utilizada durante milhões de anos, só foi, pela primeira vez, sintetizada no laboratório na segunda metade do século XVIII, por acção de uma descarga eléctrica no seio de uma mistura de hidrogénio e oxigénio.
A sua estrutura molecular confere-lhe um conjunto de propriedades que a tornam indispensável a todas as actividades humanas, nómadas ou sedentárias, rústicas ou urbanas, industrializadas ou artesanais.
Estas propriedades podem ser explicadas à custa dos elevados valores das constantes físicas da água, modeladas pela sua estrutura molecular, onde as ligações inter-moleculares, por pontes de hidrogénio, desempenham papel importante.
Tendo a água como base de vida, não é de admirar que os seres vivos dela dependam. A água entra na constituição dos animais e vegetais em proporções muito variadas que vão dos 50 aos 95%. A quantidade de água utilizável no futuro, depende em cada momento de factores climáticos, mas também das leis que regulem a sua utilização. A falta de água potável no planeta foi uma questão posta, há alguns anos atrás, e houve quem a considerasse como um absurdo, já que era reposta continuamente. A carência, de que se duvidava, está já presente nos nossos dias.

1 comment:

Lita said...

Lindo pelo conteúdo. Belo pelas imagens!